terça-feira, 30 de setembro de 2008

O Esbarrão

Era uma vez... ehr quer dizer,

Estava eu caminhando dentro de uma loja de departamento distraidamente como sempre, quando na fila para o caixa eu esbarrei acidentalmente em uma menina, o esbarrão é claro teve dois cúmplices: primeiro os fones nos ouvidos e segundo os meus olhos que insistiam em seguir uma pequena linda loira que descia a escada rolante a minha esquerda.

A menina do esbarrão estava de costas, quando a acertei, não foi um grande impacto, mas como ela era magrinha, ela avançou um pouco à frente.

O cara que estava ao seu lado, provavelmente o namorado, veio tirar satisfações, tirei meus fones do ouvido, e antes de me desculpar para ela, o cara me interrompeu e com certa raiva, percebida pelo tom de voz e o semblante fechado, me disse:

- Maluco, não olha por onda anda não? véio.

Ok! Concordo com ele quanto ao “não olha por onde anda“, mas esse linguajar utilizado hoje em dia realmente me incomoda.

Por exemplo, maluco: em minha singela opinião é uma pessoa com problemas mentais, louco. Se eu fosse uma pessoa com problemas mentais, estaria internado em uma instituição para tratamento, isolado da sociedade, e jamais teria esbarrado nela, a namorada, é algo lógico. É claro que não falei isso pra ele, pois se o tivesse feito, estaria sem alguns dentes nesse exato momento.

- Eu respondi (muito obrigado mãe e pai pela educação que vocês me deram) pra menina assim: Peço desculpas por ter esbarrado em você, foi sem intenção eu estava distraído e não percebi você aí na frente.

A resposta que eu dei meio que surpreendeu o cara, em parte por que eu o ignorei, e em outra parte por que talvez ele esperasse que eu o respondesse no mesmo tom de ignorância, gritasse ou algo parecido. Então ele resmungou:

- Fica ligado, véio – apontando o dedo pro meu rosto.

Pensei mais uma vez: “vélho”, tudo bem, não sou mais nenhum garotinho, é aceitável, agora “fica ligado”, não né... Não sou nenhuma máquina para ficar ligado, ou as máquinas já estão andando disfarçadas entre nós e não me disseram nada.

Nisso a menina, namorada, puxou o braço dele e disse algo que não ouvi claramente, provavelmente deixa pra lá ou algo do tipo, então eles viraram pra frente.

E aí, o “maluco” aqui recolocou os fones de ouvido e permaneceu “ligado” atrás deles na fila.

O que me deixou mais estarrecido em tudo isso foi à forma como o cara me tratou, aonde foi parar o - eu sou inocente até que me provem o contrário - por acaso ninguém nunca esbarrou na namorada (propriedade dele?!), ou ele mesmo nunca tropeçou em alguém, esbarrar em alguém virou artigo do código penal? Por que tanta raiva por uma situação tão banal.

E se ele me espancasse, me quebrasse um nariz e me deixasse sangrando ao chão, por acaso o esbarrão sumiria, o tempo voltaria ou a namorada dele aplaudiria e selando sua vitória com um beijo diria: “meu herói! Você acabou com o malvado do esbarrão”.

Éhh....seria trágico se não fosse cômico ou vice-versa, por isso que eu já desejei ter nascido em outra época em que não existisse tanto estresse por coisa boba, tanta pressa pra chegar a lugar nenhum, mas aí me vem a lembrança de que há vinte e um séculos atrás, um cabeludo foi crucificado por apenas falar do bem, do amor e respeito ao próximo, então eu me pergunto será que eu estaria melhor ou pior em outra época?

- E por onde andam esse amor e respeito ao próximo? Será que eles foram almoçar e esqueceram de voltar, ou simplesmente se cansaram da humanidade e decidiram buscar uma espécie mais interessante para conviver, tipo os *Ornitorrincos.


P.S: Nada contra os Ornitorrincos.

P.S²: Se tiver algum Ornitorrinco lendo agora, seu comentário será bem vindo.

P.S³: Um Ornitorrinco digitando, deve ser muito engraçado...

* Homenagem a série Mont Python.