quarta-feira, 26 de novembro de 2008

4:16



Lá estava ele, por um milagre havia conseguido achar um lugar vago no ônibus, penúltimo assento ao lado esquerdo e o melhor de tudo era assento único, então não precisaria dividi-lo com nenhum desconhecido.
Como sempre o ônibus estava lotado, algumas pessoas reclamavam da lotação dos ônibus de hoje em dia: “O perfeito precisa pô mais busão na rua” dizia um, outros cochilavam durante a viagem e havia um senhor em pé se deliciando com uma coxinha enquanto deixava restos sobre o assoalho do veículo.
Ele não se importava com os comentários dos seus próximos nem com as migalhas do outro, afinal tinha a janela pra observar o mundo caminhar e ainda tinha um bônus, pois aquele ônibus era equipado com rádio, e quando bem usado era uma verdadeira arma para acalmar os mais nervosos.

De repente tocou aquela música, sim aquela que o fazia lembrar ela, ele fechou os olhos por um momento e quando os abriu as dezenas de passageiros haviam simplesmente desaparecido, externamente ele estava em estado catatônico, nada lhe chamaria a atenção, pelo menos não durante os 4 minutos e 16 segundos de duração daquela canção.
Lá estava ela no centro do ônibus, linda como sempre, vinha em direção e ele, sentou-se no seu colo, ele então a observou, passou a mão por seus cabelos escuros, escorregou seu dedo indicador por sua testa, demorou um instante pelas suas ruguinhas, desceu um pouco mais o dedo por sua bochecha e enfim tocou seus lábios rubros.
Não resistiu a tentação e beijou longamente aquela pequena boca, o beijo então trouxe consigo uma reação em cadeia trazendo todas as boas memórias do passado, uma chama reacendeu em seu coração frio e gelado, este voltou a pulsar de forma descompassada, um frio na barriga apareceu, suas mãos se tornaram geladas.

Aquele sentimento de só querer fazer o bem, de deixar seus olhos transparentes ou como um tele-prompter de uma câmera de vídeo, e através daqueles olhos ela o conhecia como ninguém, lia o que ele pensava, aquele sentimento inundou o seu corpo, lembrou como era divertido acordar de manhã cedo só pelo fato de saber que ele se encontraria com ela durante o dia.
E mesmo quando um dia ele virasse pó, esse sentimento não seria apagado, pois em uma daquelas milhares de partículas que um dia ele se transformaria lá aquele sentimento viveria. Não se sentia triste por não tê-la mais em sua vida, o porquê de havê-la tido perdido? Não sabia, na verdade sabia sim: imaturidade ou simplesmente seus signos realmente não combinavam... Sorriu ao pensar nisso, estava sim feliz por poder lembrar-se daquela garota tão especial e por ter vivido aquele momento que nem mesmo um shift + delete conseguiria apagar.

4:13; 4:14; 4:15; 4:16... A garota virou pó, a canção havia terminado, o ônibus não mais vazio, agora lotado e o encanto havia acabado, o senhor das coxinhas que agora estava em pé ao seu lado comentou: “Oia o tamanho das teta daquela gostosa no ponto”, e quando ele olhou para aqueles gêmeos siliconados, então percebeu: o ônibus já havia passado 3 paradas à frente da que ele desceria.

Puta Que pariu – sussurrou – levantou-se, então puxou a cordinha, desceu no próximo ponto e durante 25 minutos caminhou, o gelo cobriu novamente o coração daquele homem, extinguindo aquela esperançosa e feliz chama que espera ansiosamente ouvir mais uma vez aquela canção.

domingo, 2 de novembro de 2008

Dar não é fazer amor



E ai Pessoal, sou eu o Orni Torres Rinco - Co-Autor desse blog, Hoje irei dar uma parada nessas dessas bobagens que o Sr. fabantas escreve, Hoje como meu primeiro post vou colocar algo sério escrito pelo grande autor Luís Fernando Veríssimo, vocês já devem ter visto esse texto na net, mas bons textos devem sempre ser divulgados.





DAR NÃO É FAZER AMOR

Dar é dar.
Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido.
Mas dar é bom pra cacete.
Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca...
Te chama de nomes que eu não escreveria...
Não te vira com delicadeza...
Não sente vergonha de ritmos animais. Dar é bom.
Melhor do que dar, só dar por dar.
Dar sem querer casar....
Sem querer apresentar pra mãe...
Sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo.
Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral...
Te amolece o gingado...
Te molha o instinto.
Dar porque a vida é estressante e dar relaxa.
Dar porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de amanhã.
Tem pessoas que você vai acabar dando, não tem jeito.
Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem
esperar ouvir futuro.
Dar é bom, na hora.
Durante um mês.
Para os mais desavisados, talvez anos.

Mas dar é dar demais e ficar vazio.
Dar é não ganhar.
É não ganhar um eu te amo baixinho perdido no meio do escuro.
É não ganhar uma mão no ombro quando o caos da cidade parece querer te abduzir.
É não ter alguém pra querer casar, para apresentar pra mãe, pra dar
o primeiro abraço de Ano Novo e pra falar:
"Que que cê acha amor?".
É não ter companhia garantida para viajar.
É não ter para quem ligar quando recebe uma boa notícia.
Dar é não querer dormir encaixadinho...
É não ter alguém para ouvir seus dengos...
Mas dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê muito.

Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer coisa, uma chance ao amor.
Esse sim é o maior tesão.
Esse sim relaxa, cura o mau humor, ameniza todas as crises e faz você flutuar

Experimente ser amado...

Escrito por: Luis Fernando Veríssimo.