quarta-feira, 31 de março de 2010

BOA NOITE LUA


Já passavam das 10 horas da noite quando ela chegou em casa.

Tenho a impressão de que alguém está me seguindo – disse apavorada.

Será? Não sei e se for verdade? Se algum maluco está atrás de mim, o que eu posso fazer? O que eu devo fazer? Se eu sou apenas uma menininha indefesa.

- Ah cansei, dessa vez não vou morrer de véspera, amanhã é sábado vou me preparar para caso algo ruim aconteça, chega! Se ele realmente quer me pegar não vai ser tão fácil quanto ele imagina.

Durante a noite dormiu muito mal, acordando em intervalos pequenos e só quando amanheceu que ela conseguiu descansar e adormecer tranqüila.

Acordou ao meio dia, comeu dois pães torrados com suco de maracujá, deu um pedaço de bolo para seu Bull Terrier que estava alheio aquela situação, interessado em uma borboleta colorida que flutuava pela casa. Sentou ao lado da janela pensativa - Coragem! Disse pra si mesma.

Seu marido sempre estava viajando, e dessa vez ia ficar por pelo menos uma semana fora de casa, não se acostumara com isso: Ele nunca estava em casa quando ela mais precisava. Não se sentia segura por isso resolveu dar início ao plano.

Começou quebrando várias garrafas velhas que eram inservíveis até então, espalhou as centenas de cacos de vidros provenientes no gramado que ficava entre o portão e a garagem.

Trancou a porta da casa, pegou um prego no armário da dispensa e pregou-o atravessado na fechadura da porta, assim evitava a entrada de qualquer chave estranha, estava satisfeita a porta seria um obstáculo mais difícil a ser transpassado.

Abriu um saco de tachinhas e espalhou todo o conteúdo no caminho da sala até chegar à escada que dava acesso ao segundo andar. Pegou uma faca na cozinha e pôs embaixo do travesseiro, sentou-se a cama abriu o criado mudo e verificou se o dinheiro ainda estava lá para um caso de emergência, estava.

Levantou-se e Ligou a TV, abriu o guarda-roupa, tirou de uma caixa de sapatos velha um dos revolveres do seu marido, segurou bem firme, observou se já estava carregado, travou e colocou este entre o short e o ventre, enquanto voltava para a cama observou o Bull Terrier, cara de copo, deitado ao chão sonolento, lambendo as patas.

Deitou-se, tirou do bolso de trás do short o celular e verificou se a bateria estava carregada, Yes! Quatro barrinhas mostravam na tela, porém o sinal estava baixo como sempre, aquela operadora naquela região era uma combinação perfeita para que o aparelho não funcionasse, decidiu pegar o telefone sem fio e deixar ao lado da cama.

A Lua já havia se instalado lá fora, mas todas as luzes naquele sobrado permaneciam acesas. Não podia dormir, não queria dormir e se as luzes se apagarem? Já era – pensou. Boa noite senhora Lua, mas eu prefiro mil vezes o Sol.

Cochilou... nãoooo, não podia ter cochilado, droga e por quanto tempo estivera desacordada, o ventou gemia assustador lá fora, ao longe ouviu um barulho splash! Parecia um mergulho, Decidiu abrir a janela do quarto para averiguar o que era foi quando de onde estava pareceu ver uma barbatana ziguezagueando pela piscina.

- Caramba eu estou louca?! Um tubarão na piscina!

- Não, você não está louca - respondeu uma bruxa sorridente flutuando pela copa da arvore em frente a sua janela.

Fechou a janela e a cortina no mesmo instante, sentou-se ao chão com a mão abraçando os joelhos – não isso não pode estar acontecendo, isso não é real, uma bruxa! Acalme-se pensou consigo mesma. Depois de um tempo decidiu levantar e dar uma espiada lá fora, inspirou fundo e abriu a janela lentamente, mas dessa vez a feiticeira e o tubarão não estavam mais lá.

Observou ao longe, uma luz acesa na casa do vizinho. Aquele velho louco anda me observando, eu sabia! qualquer dia desse eu ligo para a polícia. De repente um vulto passou pela cerca. Coçou os olhos e ele já não estava mais lá. Decidiu fechar a janela de vez.

Foi ao banheiro abriu o armarinho, pegou um frasco e tomou alguns calmantes, quando voltava ao quarto ouviu passos altos e fortes vindos pelo corredor, droga! Correu e fechou a porta do quarto. Deitou-se na cama, sentiu que algo se mexia embaixo dela, devia ser o cachorro brincando, mas tinha muito medo e preferiu não pagar pra ver o que realmente era aquela agitação.

Barulhos de arranhões nas paredes se espalharam, a janela se abriu e um corvo preto sentou-se no parapeito e piscou para ela.

Não, isso não está acontecendo, que merda eu odeio ficar sozinha, eu quero ver o Sol por que ele demora tanto? Não sei se vou resistir por mais tempo, eu posso estar acabada até ele chegar.

Estou me sentindo zonza, acho que exagerei nos calmantes, e esse corvo xô!!! Sai fora. Como alguém poderia me salvar? Depois de tudo que fiz, eu sou louca mesmo.

Uma sombra passou por baixo da porta do quarto e avançou na direção dela, ela já não entendia mais nada o porquê suas armadilhas não funcionaram, o vulto escuro beijou seu rosto pálido, ela olhou para ele desnorteada tentava pegar o revolver na cintura, mas sua mão não a obedecia mais, pela janela a Lua a observava impassível e lhe dizia: Boa noite senhorita e eu também prefiro o sol a você.

A sombra então devorou o seu cérebro de uma vez...




...Ela acorda molhada em suor, o sol brilha pela janela “Here comes the sun” dos Beatles começa a tocar na rádio.

- Nossa que sonho mais louco! Ou melhor, que pesadelo horrível. Ela cumprimenta o Sol, Bom dia! Despe-se e como veio ao mundo vai ao banheiro para tomar uma ducha e lavar a alma.

Esse texto foi totalmente inspirado na música “Goodnight moon” da cantora Shivaree, tema do filme Kill Bill. Só peguei a letra e tentei transformar num pequeno conto de terror...hehe O clipe da música segue abaixo.



Shivaree - Goodnight Moon 

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