terça-feira, 9 de março de 2010

O Bêbado e o Choro

Lá estava Ele no ônibus parado, sentado a espera de um milagre.
Na verdade um Bêbado estava pedindo carona ao motorista até que depois de alguns minutos de uma discussão em alto nível o cobrador liberou e deixou o bêbado entrar pela porta do meio.
O Bêbado escolhia um lugar para chamar de seu, o ônibus estava razoavelmente vazio, logo Ele pensava: não, por favor, não senta ao meu lado. Numa jogada de mestre sentou-se no assento do corredor, pois em sua teoria bêbado é que nem água vai pelo lugar mais fácil e do jeito cambaleante que ele andava o sujeito não conseguiria sentar no assento da janela nem em um milhão de anos. Missão comprida o embriagado acabou ficando a sua frente, mais um ponto para Ele já que não teria um bafo “cheiroso” ao meu cangote.
Ao sentar o bêbado começou a pedir desculpas ao cobrador, pois não tinha dinheiro, estava a caminho do funeral de seu irmão, que dizia já havia começado, mas havia uma hora que ele estava pedindo carona, mas ninguém queria ajudá-lo e doía muito a morte de seu ente querido, tá tá fica na tua aí maluco – respondeu o cobrador.
Sem pensar o bêbado levantou-se e foi direto ao cobrador e tentou abraçá-lo em agradecimento pela carona, porém o cobrador esquivou-se e com muitas palavras de baixo calão pediu delicadamente para o sujeito sentar-se novamente.
Até esse momento Ele observava aquela cena com os seus fones de ouvido em um volume baixo, com o objetivo principal de que eles, os passageiros, pensassem que Ele estava ouvindo algum tipo de música sendo assim eles não lhe torrariam o saco.
O sujeito permaneceu em pé e assim como qualquer bêbado repetia sua história inúmeras vezes, como um disco furado. Mas as lágrimas que começaram a descer do seu rosto pareciam bem verdadeiras.
Será que sua história era verdadeira?
Será que ele ressentia aquela dor e buscava compreensão dos outros?
Apenas mais um manguaceiro enchendo o saco mesmo?
Ou um mentiroso em busca de atenção?
Não sabia, Ele nunca saberia a reposta, lhe parecia ser algo verdadeiro, parecia que o alcoolizado sofria, no entanto o mundo havia se tornado muito insensível, atire primeiro e pergunte depois virou a marca daquela sociedade.
O bêbado caiu algumas vezes, tentou se aproximar das pessoas, mas foi empurrado, ignorado, sentou-se, se conformou e chorou... Chorou e chorou... O disco havia se quebrado? As palmas da mão no rosto não seguravam as incontidas lágrimas enquanto as pessoas se sentiam incomodadas, enojadas e um pai fazia o filho rir daquele pobre coitado.
Ele desceu aquelas pessoas não lhe faziam bem, mas com a partida do ônibus o disco furado rodou novamente.

Um comentário:

Anônimo disse...

Talvez ele realmente precisasse de atenção; ainda que bêbado lhe restava um pouco de sobriedade. Enfim, gostei muito do post, muito bem composto, traços cômicos e dramáticos muito bem colocados. p.s. Não abandone o blog! ;)